domingo, 19 de junho de 2011

Utopia

Tempo de olhar para o chão, de viver com o relógio na mão. Tempo, onde nem o tempo tem tempo de esperar seu tempo. Um martírio, sentimos medo de sentir medo. Faço o cimento da minha poesia, sem ponto final, sem esperar a cura do mal. É um prefácio mal amado, um sentido inacabado.   
E o tempo passou, envelheceu. O silêncio é uma tortura, foi um adeus de ternura, alguma coisa se perdeu. Então a alma compõe uma música para a vida acontecer, as paredes dizem da rima, mas não é uma canção, é uma sina. Uma sina aflorada numa angustia sóbria, vasta, profunda e muda. As horas são eternas e o tempo envelhece. Mas enquanto a vida passa, eu procuro razão no ar que respiro, no medo que ainda não sinto, nas horas nuas, na nostalgia. E é no meu mundo, entre quatro paredes, que, na infinita madrugada, só existe amor e mais nada. 
A dor é inevitável, o sofrimento é opcional, o tempo passa com o tempo. Eu já pus tanto ponto final, que a minha vida virou reticências. Eu abjuro meu entender, como se eu entendesse algo. Escrevo para anunciar o sarcasmo: a esperança de que alguém me entenda.