Numa alma, uma vida. Encanto e magia, quantas e quantas vezes eu tento lhe dizer o quanto eu amo você. Talvez eu diga palavras que dizem nada. Promessas são feitas no ar, ditas por quem ama o amor. É uma saudade do que não foi, depois do adeus em uma eternidade temida, mas amar como eu te amo é só uma vez na vida.
Ao fim de tudo, por trás de um sorriso, a ilha não se curva e a vida... Ah, a vida tem dessas coisas.
segunda-feira, 28 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
Belo incerto
São tantas historias para contar, nas quais não se conta o que se sente. Enfim é o retrato que condena um tempo poente ao traduzir a cor da brasa. A minha alma dorme profundamente no exílio, onde sonho em viver de amor e palavra.
domingo, 20 de março de 2011
Boneca de pano
A voz era suave e ternas eram as palavras. Mútua ternura que restituiu um desígnio enternecido. Como convém, rendeu-se à tempos mais remotos que este. Estava tudo desolado, em pouco tempo eu senti a sua falta e então me lembrei da sua inexistência. A alma encantava as ruas, o pobre louco morria de amargura embaixo da chuva. O relógio da catedral enfim marcou meia-noite, a triste estátua de mármore chorou. A lua se ocultava numa nuvem escura, calou-se a flauta do mendigo. Aquele homem digno olhou para a catedral e zombou-a com um riso de escárnio satânico, de pobre artista. Escarneceu debochando como o ardor de um fogo julgando outra vez. Sentou-se na calçada e para a chuva caindo olhou. Lembrou-se de um amor perverso, maldoso e invalido. O amor tem lábia, fazes penar ao som de magos decantes. É chalaça, é cantiga de mau trovador. Eu vivia como aquele mendigo. Aquela flauta era a poesia ideal. Eu amei sem ser poeta, fui louca, pequei, fiz mal. O desatino me faz recordar de um tempo que ainda não passou. Tudo a minha volta transmite ódio, tudo a minha volta emite amor, tudo a minha volta me causa dor. O jeito é cantar pela mata pra ver se endireito a minha vida, vou deixar as serenatas malditas. Se eu pudesse desfazer tudo aquilo que está feito, só assim o amor seria contrafeito. A chuva enfim acabou na noite sonorosa, o luar era bonito se visto do alto da serra. Era um momento, era um céu estrelado, era um homem com a sua viola e uma morena do lado. Mas há quem entende o amor. Sabe lá e quem será? Até hoje eu tento encontrar explicação, mas não há. Você se engana perante indecisos caminhos dessa vida cigana. Pedi para a estrela do tempo ensinar-me a sonhar, mas tudo é tão ofuscado quanto dizer que o pôr do sol sempre será a mesma lua. O amor é cinismo, palavras e silêncio. O maior sarcasmo de todos os tempos. Tentamos encontrar respostas para a vida, mas a vida está na flor, a vida é sorrir ao lembrar-se de um sorriso, é amor. Mas não confundam o amor com extremos, afinal o bem e o mal morrem no final. No corredor da noite daquela cidade silenciosa, emanava novamente a flauta do mendigo que a lua calou. Observei mais um pouco aqueles trechos da vida de uma vida esquecida. Voltei para casa, a luz era farta pela fresta da porta entreaberta. Na minha cômoda, o retrato antigo do seu sorriso envelhecia comigo. Eu enfrentei a insônia naquela noite, eu pus à prova minha resistência, tive que fingir o que não sentia, mas a minha alma abstrata ainda é tudo que me resta. Aqueles trechos desolados deixaram-me apenas sofismas, o resto você calou. Mas teu oculto sorriso ainda é a minha sina, a minha trova. O sonido das ondas era manso, o vento sonegou que descalço caminhava à beira da praia. O sol renasceu e brilhou sob aquele tenebroso alarido. A melancolia cessou suavemente, as minhas mãos caíram inertes sobre o manto ainda fremente. Dormi então. Sonhei com uma lembrança que me recordava uma verdade, lembrança que o sonho me trouxe sem dó nem piedade. O sonho dizia astuciosas palavras sobre o dom de ler nas estrelas. Entre cânticos de alegria, o amor à repugnância. Na verdade eu nada entendia o que sonhava, mas continuei clamando um mísero delírio. Só compreendia que tinha um sonho na mão, mas não sabia sonhá-lo, eis a questão. Depois de infinitas horas, o sino da catedral tocou, mas continuou mudo. Acordei do sonho e continuei a sonhar que descalça fui novamente dar bom dia ao sol, ao som da flauta daquele mendigo.
A nuvem
E o tempo passou, envelheceu. Foi uma nuvem que o vento soprou, escondeu. O silêncio é uma tortura, foi um adeus de ternura, alguma coisa se perdeu. A madrugada então chegou, o sereno caiu. A noite é inusitada, a poesia da madrugada senta ao meu lado sem dizer nada. Em silêncio ela me conta uma história, um encontro ao desconhecido. Convence-me sobre a estrada da vida, com passos no chão da jornada em uma trilha infinita. Há um silêncio atroador em mim, e é a partir desse troante que eu retiro minhas palavras. No tempo, no espaço, no descompasso do intervalo entre o dia e a noite, o nada, às vezes, me faz companhia e ainda me sinto como se estivesse plena de tudo, talvez assim seja. A noite me fez e, assim como o luar, do mundo afora eu faço pouco caso. O mundo eu não entendo, vendo que a vida está se esvaecendo. É preciso olhar para ver e ter alma pura para entender. E assim talvez nada faça sentido, ou talvez tudo faça sentido algum. A vida é uma escritora dramática e caótica, e seja lá o que for declarar, mesmo sendo mentira, eu acredito. Eu quero viver no sertão à beira mar, vendo um álbum de retrato que eu já cansei de olhar. A vida é isso, não tem segredo, só mistério. Um mistério que traduz um tempo no espaço, um anseio edípico, uma estrada real, enquanto a louca fantasia cristaliza a eterna nostalgia de um lugar surreal. A existência é o melhor e o pior de mim, ao meu redor é deserto e tudo ainda está tão perto. Até o meu céu está tão longe, que me incomoda a sua companhia. O meu céu fica em cima do teto, tem as quatro estações, mas não o enxergo. Na janela venta, o vento devora o breu. A ventania sopra a areia, parece um tempo que se esqueceu. Então a alma compõe uma música para a vida acontecer, decompõe versos em pedaços interpostos, versos mal ditos. As margens dizem da rima, mas não é uma canção, é uma sina. Uma sina aflorada numa angustia sóbria, vasta, profunda e muda, a lenda. É uma beleza insincera, demasiadamente bela. É um olhar ofuscado, e enfim a vida me sorri. Não quero que o dia venha, não quero uma madrugada no fim da estrada... assim eu só teria amor, amor e mais nada. Cada hora teria seu encanto, sem bonito nem feio. Ao vento cálido, as pétalas cobrem o leito. Os olhos marejam as nuas flores inertes ao chão. O silêncio ainda está lá fora, o seu olhar demora. É magia, olho a olho e nada a falar. O pôr-do-sol me traz seu olhar antes e seu sorriso depois. É profano, o olhar abafa o grito. Um amor que eu guardo no peito, jamais sentido. O belo me recorda poemas que declamei a vida, até que encontrei você naquela esquina. As horas são eternas e o tempo envelhece. Mas enquanto a vida passa, eu ainda procuro acreditar naquilo que duvido, ainda busco a razão no ar que respiro, no medo que eu ainda não sinto, nas horas nuas, na felicidade, na nostalgia. Ao fim eu nada encontro, sempre acho você no meio de tudo. Eu te amo, e no tudo você é a minha insana paz, o meu mundo.
sábado, 19 de março de 2011
Ávido
Foi inesperado, um sonho talvez. Uma pureza imensa como a ilusão de uma criança ao olhar desenhos feitos de algodão no céu. As flores eram de todas as cores, os pássaros de barro ainda descansavam na estante, as letras eram tão claras que se misturavam ao papel branco naquele instante. Por desamor, o céu estava azul, não tinha nuvens, estava estranho. Minha fraqueza bateu novamente ao olhar aquele céu claro e infinito. O firmamento azul me lembra dor, me lembra do mesmo velho chão, dos mesmos velhos medos. O céu é a minha vida, uma vida feita de nuvem. O azul é uma miragem, é dissimulado. Acho graça das pessoas ao verem um céu assim. Ficam por horas olhando, a respiração é contínua. Novamente, da vida, eu só escuto o silêncio e continuo lendo as letras ocultas do papel branco, por horas de um tempo pleno.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Lua cheia
A voz é da flor, nunca vi mais eterna. Mas não ouvir a voz daquele tempo ainda me desespera. Cidades adormecidas, um trem de ferro ainda passa pela estrada deixada para trás. E foi no fim do dia que meus olhos brilharam ao olhar àquela lua, tão linda. Só eu andava pelas ruas olhando para cima. Impressionam-me as pessoas que andam ao meu lado, olhando sempre para baixo, com medo de cair, de certo. Não entendo, nem flores enfeitando há mais no chão, não há razão. Dá-me a tua mão, e então lhe farei olhar para a escuridão da noite, é inexpressivo ao coração. A noite insincera, é a lua, são estrelas, é bela. É mais clara que o dia, a luz do luar ilumina mais que o sol quando toca o ar. Queria dar a lua a alguém antes que, como a vida, ela morra.
quinta-feira, 10 de março de 2011
A cor da letra
A vida é promíscua e divina. Fascina-me a tentação com a sua aptidão de me seduzir e sempre me fazer cair em sua sedução. É o defeito que dá beleza à perfeição, é o defeito que sustenta um céu inteiro. O coração é selvagem e a solidão é uma grande viagem. Pandora é a vida quando não quer revelar o seu mistério. Anjos e demônios são a mesma pessoa, essa é a verdade.
À fronteira
Não quero ser percebida. Eu falo baixo, sem a intenção de ser ouvida. As pessoas a minha volta são de um planeta solitário que precisam fazer o mundo girar ao contrário. No mais, a vida é visionária. Mas o mundo diante ela ainda é como fazer um cego enxergar as cores da sua cegueira.
quarta-feira, 9 de março de 2011
O segredo diz traído
Tem gente que não sabe amar, tem gente que vive a venerar. São tantas mentes asseadas que pensam tudo pela metade. Tudo que vivemos não passa de um sonho dentro de outro sonho. Da alegria nasce a tristeza, a lembrança feliz do passado é a angustia de hoje, a agonia tem origem do êxtase de um amor que está longe. Não acredito em nada que me falam, prefiro continuar enxergando o que só eu vejo, vivendo a vida pelo avesso e me encantando ante aquilo que todos desprezam. Prefiro amar a vida sem enfeites, sem postura. As pessoas me condenam, tenho um traquejo laico e dramático que me deixa assim, sem ter moral nesse mundo vago. Não existo em vão, não tenho a fé que inventam em ter para ter algo a crer. Eu não entendo as coisas, só digo palavras sem nexo, me traio em memórias, me contradito durante a história... Nesse mundo, o meu egoísmo é tão egoísta que o meu apogeu é querer ajudar. Na minha vida não existe carnaval, não existe resposta e nem espero a cura do mal. Vim de lugar nenhum, minha história é de quem quiser e cruzar o caminho. Um anjo contempla minha vida, mas não sei quem sela meu destino. Eu guardo o meu segredo dentro de um olhar vazio e espero o mundo girar na direção que o vento mandar. Mas eu não sou tão ingrata assim, eu aparto a quarta-feira para rezar pelas cinzas que as ondas irão levar.
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