sábado, 10 de setembro de 2011

Interlúdio

Ademais, ática era a flauta que espreitava as flores do mal polidas ao chão. Em quase um segundo, eu senti a brisa que tocava a astuta e pálida pele de Sísifo. Ente, a maior flor do mundo olhava anjo adentro, duvidando, em um impasse, de sua pureza. Olhos sujos de poemas, condenava o fúnebre arcanjo da vida. Seu olhar de náusea, repelia as coisas das palavras sem ênfase. O silêncio consolava o grito, o mudo medo soletrava o sol. O amor cigano fez uma flor nascer na rua. Debochada, era uma flor, nasceu desbotada. Sem dó, furou o asfalto, ignorou o ódio, declarou o nojo e encerrou o tédio, era uma flor.

Sinestesia

Lacuna, o abismo do infinito rompe a canção alta da minha vida. É um grito mudo, eu não posso escutar. Deve ser a saudade que só não mata, pois ama torturar. É duro não pertencer ao mundo em que vive, eu me pertenço, mas não me habito. Quem dera gritar a tristeza adiada, abafada. Você está tão longe que a tua sombra ainda me atormenta. Pudera eu explicar esse amor, mas não faço questão de lhe mostrar com pudor. Quão bela é a dor, é um óbito sem autor. A verdade da mentira, dita com fervor. O nó vela, desata as cores amargas. Um mar feito de silêncio, a lua ilumina o sol, o pejo, em tua voz torta, trama o drama em prol. 

Teor

Um dia a mais, estou me sentindo menos gente. Tem dias, que os meus dias demoram dias pra passar. Há quanto tempo ando com um olhar de ressaca, depois de tanto porre que levei durante esses infinitos anos. E é na embriaguez da poesia que eu escrevo como forma de amenizar a nostalgia. Escrever, escrever... e não chegar a nenhuma conclusão, eis a questão. Talvez seja pelo meu receio de traduzir palavras e, assim, materializar os sentimentos. Mergulho nas sombras de Edgar Allan Poe para salvar minh'alma. Um turbilhão de memórias me invade, rompem minha mente. Lembro de cada detalhe, mas já esqueci tudo. É tanta coisa, parece tão pouco, me basta tanto. Essa felicidade fria me consome, vivo na solitude. 

Pauta

À meia luz, era um anjo inocente, era uma dor evidente. Não sei o que o silêncio quis me dizer quando ficou calado. Às vezes eu não entendo o acaso, a vida me trai. O sol trouxe a melancolia, e nquanto isso, a sombra do passado me traz uma saudade de um tempo que ainda não passou. A noite é uma lembrança do devir, é o instante, a lua faz silêncio, a solidão acalma a minha pressa, é uma promessa. A chuva cai e não cessa nem ao aliviar a minha dor. O ritmo da tempestade me lembra o teu olhar ao regar a flor. Tenaz assim é a lágrima que sorri ao ouvir essa chuva cair sem fim. A chuva é uma alma a sonhar, sem ter que durar. E se chover demais, o que resta é chorar. Como será depois, o vento irá dizer. É lento, é o caos do pensamento. Esse momento não me deixa esquecer, o vento lembra você. Eu já sei de cor todo esse deleite, é o meu enredo, é um suspense. Por isso eu quero o nada... Dizem que nada, dura para sempre.

Enfermidade vital

Um troante sorriso, o tempo à flor da pele. A eternidade de uma história recende a vida de uma memória, história que desfaz o que refez. O amor contradiz tua postura sana, sem ao menos relutar. Um encanto depravado, enxuto, palavra maldita, repetida, mal dita... nem sequer profana o meu amor por você. Talvez eu diga palavras que dizem nada, promessas são feitas no ar. Não espero que acredite em qualquer palavra minha, nem eu acredito. No silêncio das cores, do fato eu duvido. Quão belo é o amor quando aflora, consagra a dor quando vai, ao infinito, embora. Respostas na mão, enfermo olhar. Não hesito a muda canção, o que cala fala mais alto ao coração. Enquanto há versos que condizem com a razão, a tua voz não emana sentido ao replicar, quando eu lhe digo que és o meu chão, minha vida, meu ar.