O artista e sua lâmpada
Garanto que não garanto nada. Dependo de alguém, mas nada garante que ir adiante é o melhor destino. Queria saber quem é o nada, já que o nada é alguém. O martírio onisciente alude a lucidez à flor da pele. Messias me disse que o juízo final era logo na esquina, e foi. Por um momento o impulso me expulsou da história que levo na mão. Foi um tempo de doçura fel que por desventura caiu no abismo da decadência do equilíbrio sereno entre a vida e a morte. Eram lembranças de memórias que não existem. A saudade é muito sublime, o que eu sentia era um egoísmo enorme da minha parte. No meu sorriso nasceu uma flor cuja a unica pétala que restava estava escrito em sangue: "A solidão é um muro entre dois jardins". A angustia era da primeira vista, o diabo ainda era um anjo. Eu pensei com o coração, mas à nenhuma razão cheguei. O meu coração é um ladrão. A canção me citava a utopia de um sonho consumado. Eu só conseguia enxergar sorrisos à minha volta, sorrisos que me guiavam a um mundo obscuro de uma escuridão que de tão clara cegou meus olhos. O riacho de pedra guiava ao outro lado do jardim, mas não me conduzia. Escalei e me sentei no topo do grande muro. Me deparei com um reino distante, onde o amor era seu reinado. Era um rei mal coroado e não sabia que de tão cansado já morria. Minha coragem não me deixava seguir em frente, fiquei observando. Se passou uma eternidade, desci daquele gigante muro. A triste despedida teve medo ao partir. Veio-me recordações de momentos que parei para observar, algo que nunca tinha feito. Narrei a minha história por um momento. Minha mente refletia em aguas correntes que erros sempre repetem, pois nunca deixam de ser erros. Errei ao acreditar no que acreditei, ao olhar para a lua que já olhei, ao amar quem eu já amei. Voltei pela sombra de algumas árvores. Segui uma trilha que por instinto tive que trilhar, pois era tão escura que mal podia enxergar. Aquela escuridão iluminou a minha doente alegria de uma melancólica melodia que recitei noutro dia. Lágrimas se lamentavam pelos cantos da floresta e por fim a paz deu emboscada à fuga de um sonho mal sonhado. Amanheceu, o sol me trouxe um sorriso. Um riso que nem eu sabia que ainda existia. Eu devia estar alegre e satisfeita, mas acho que tudo que há de belo virou uma insípida piada. Atravessei alguns pântanos e descobri em calmos cumes um diamante tolo. Cheguei então a uma estrada bifurcada. Enxerguei inúmeras sombras espelhando estradas que já passei.
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